Plantar sementes de amor aos oceanos
Bruno Tavares – Vice-Presidente da Praticagem de São Paulo
Estudo recente de cientistas internacionais constatou que os oceanos do mundo têm uma “poluição de plástico” composta por cerca de 171 trilhões de partículas. Grandes quantidades desse lixo vêm de terra e são transportadas para o mar.
Como estamos em plena Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, declarada pela Organização das Nações Unidas até 2030, é urgente pensar no futuro. E pensar se as novas gerações serão capazes de gerenciar melhor do que nós esse grave risco para os mares.
Nós, da Praticagem de São Paulo, vivemos diariamente no mar e sabemos que o desconhecimento dos recursos e dos problemas ainda é grande. Segundo a Agência de Administração Atmosférica e Oceânica dos Estados Unidos, mais de 80% do oceano nunca foi mapeado, observado ou explorado.
O maior desafio no Brasil é incentivar o desenvolvimento da cultura oceânica e fortalecer a integração e comunicação entre pesquisas científicas, sociedade e governantes. Mas só isso não basta para garantir a proteção a um imenso litoral com quase 8 mil km de extensão.
Ações como a parceria recente entre o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), lançando dois editais para fomentar a cultura oceânica dentro das escolas de todo o país merecem elogios e devem ser multiplicadas.
Aumentar a participação da comunidade na preservação dos oceanos também inclui políticas públicas com o desenvolvimento do tema no currículo escolar. Temos o excelente programa Escola Azul mobiliza, mas é uma atividade voluntária das escolas. Educação para o mar deve ser continuada, ser incluída no currículo, com professores bem preparados para ensinar.
A comunidade de Santos e região tem uma ligação grande com o mar. E essa relação deve ser preservada. A Praticagem de São Paulo pode colaborar com as secretarias de Educação e Meio Ambiente da região com a expertise de tantos anos. Crianças naturalmente gostam de água, seja da chuva, do mar, da cachoeira. Se forem acostumadas em casa e na escola a valorizar e a preservar os recursos naturais, elas levarão essa lição para a vida.
Lembro da declaração do oceanógrafo e professor da USP, Alexander Turra, que sensibilizar as crianças para a defesa do ecossistema marinho passa por um trabalho com a emoção e a informação. Segundo ele, o oceano é mágico e está no imaginário das pessoas e das crianças, por isso a necessidade de reforçar atitudes para evitar a degradação dos oceanos.
Temos vários exemplos de iniciativas de sucesso no Brasil. Fortaleza aprovou recentemente a Lei Complementar n° 356/2023 criando a Agência de Desenvolvimento da Economia do Mar de Fortaleza. Agora, os professores da rede pública municipal receberão capacitação para a inclusão, nos currículos escolares, de atividades voltadas para a conscientização sobre a conservação e o uso sustentável dos oceanos.
A Secretaria de Educação de Itajaí, em Santa Catarina, está engajada nas causas ambientais e de sustentabilidade, com projetos que orientam os alunos sobre o fato de a rede de drenagem fluvial arrastar o lixo descartado incorretamente para os rios e oceanos. Somente com esse último projeto, 52 unidades da Rede Municipal estão envolvidas.
A conscientização é a melhor forma para criar essa mentalidade da proteção dos mares e oceanos, vitais para um planeta saudável e para a qualidade de vida. A mensagem que gostaria de deixar é um convite à ação. A relação Porto/Cidade deve sair da esfera portuária e chegar a toda população, principalmente às nossas crianças.